quarta-feira, 4 de abril de 2012

O declínio do Sol e a Morte dos Girassóis

Não sou profeta
muito menos vidente
Mas digo sem medo
Ricardo é Estrela Decadente

Não sei o que dizem as ruas
Reconheço o poder do Carisma
Mas quem pode resistir
Quando a verdade cisma.

Bem longe de mim uma praga
Ou desejo de mal ao futuro
Mas quem planta injustica
Não pode colher bom fruto

Bem mais que belas palavras
Discurso não muda mentiras
Retórica não limpa lama
Brabeza não intimida

O declínio do sol começou
Corram os que querem sobreviver
Se quer ficar no PSB
É por sua conta e Risco

Não Sou profeta nem sou vidente
Porém está bem evidente:
O sol virou estrela decadente.
Corre daí minha gente.

MAS PRA COMPENSAR SEU ESFORÇO EM LER QUEM NÃO SABEM BEM FAZER POESIA...
Não deixe de ler essa bela narativa que, além de bela, também serve para que nenhum desavisado invente de mandar flores pra velório de quem ainda não morreu.

A morte dos girassóis (Caio Fernando Abreu)

"Anoitecia, eu estava no jardim. Passou um vizinho e ficou me olhando,
pálido demais até para o anoitecer. Tanto que cheguei a me virar para
trás, quem sabe alguma coisa além de mim no jardim. Mas havia apenas os
brincos-de-princesa, a enredadeira subindo tenta pelos cordões, rosas
cor-de-rosa, gladíolos desgrenhados. Eu disse oi, ele ficou mais pálido.
Perguntei que-que foi, e ele enfim suspirou: "Me disseram no Bonfim que
você morreu na Quinta-feira." Eu disse ou pensei em dizer ou de tal
forma deveria ter dito que foi como se dissesse: "É verdade, morri sim.
Isso que você está vendo é uma aparição, voltei porque não consigo me
libertar do jardim, vou ficar aqui vagando feito Egum até desabrochar
aquela rosa amarela plantada no dia de Oxum. Quando passar por lá no
Bonfim diz que sim, que morri mesmo,e já faz tempo, lá por agosto do ano
passado. Aproveita e avisa o pessoal que é ótimo aqui do outro lado:
enfim um lugar sem baixo-astral."

Acho que ele foi embora, ainda mais pálido. Ou eu fui, não importa.
Mudando de assunto sem mudar propriamente, tenho aprendido muito com o
jardim. Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de fora parecem
flores simples, fáceis, até um pouco brutas.
Pois não são. Girassol leva tempo se preparando, cresce devagar
enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis do mal, ventos
destruidores. Depois de meses, um dia pá! Lá está o botãozinho todo
catita,parece que já vai abrir.

Mas leva tempo, ele também, se produzindo. Eu cuidava, cuidava, e nada.
Viajei por quase um mês no verão, quando voltei, a casa tinha sido
pintada, muro inclusive, e vários girassóis estavam quebrados. Fiquei
uma fera. Gritei com o pintor: "Mas o senhor não sabe que as plantas
sentem dor que nem a gente?" O homem ficou me olhando tão pálido quanto
aquele vizinho.
Não, ele não sabe, entendi. E fui cuidar do que restava, que é sempre o
que se deve fazer.

Porque tem outra coisa: girassol quando abre flor, geralmente despenca.
O talo é frágil demais para a própria flor, compreende? Então,como se
não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra,exausto
da própria criação esplêndida. Pois conheço poucas coisas mais
esplêndidas, o adjetivo é esse, do que um girassol aberto.

Alguns amarrei com cordões em estacas, mas havia um tão quebrado que nem
dei muita atenção, parecia não valer a pena. Só apoiei-o numa
espada-de-são-jorge com jeito, e entreguei a Deus. Pois no dia seguinte,
lá estava ele todo meio empinado de novo, tortíssimo, mas dispensando o
apoio da espada. Foi crescendo assim precário, feinho, fragilíssimo.
Quando parecia quase bom, cráu! Veio uma chuva medonha e deitou-se por
terra. Pela manhã estava todo enlameado, mas firme. Aí me veio a idéia:
cortei-o com cuidado e coloquei-o aos pés do Buda chinês de mãos
quebradas que herdei de Vicente Pereira. Estava tão mal que o talo
pendia cheio dos ângulos das fraturas, a flor ficava assim meio de
cabeça baixa e de costas para o Buda.
Não havia como endireitá-lo.

Na manhã seguinte, juro, ele havia feito um giro completo sobre o
próprio eixo e estava com a corola toda aberta, iluminada, voltada
exatamente para o sorriso do Bunda. Os dois pareciam sorrir um para o
outro.Um com o talo torto, outro com as mãos quebradas. Durou pouco,
girassol dura pouco, uns três dias. Então peguei e joguei-o pétala por
pétala, depois o talo e a corola entre as alamandas da sacada, para que
caíssem no canteiro lá embaixo e voltassem a ser pó, húmus misturado à
terra, depois não sei ao certo, voltasse à tona fazendo parte de uma
rosa, palma-de-santa-rita, lírio ou azaléia, vai saber que tramas armam
as raízes lá embaixo no escuro, em segredo.

Ah, pede-se não enviar flores. Pois como eu ia dizendo, depois que
comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se
deve decretar a morte de um girassol antes do tempo, compreendeu?
Algumas pessoas acho que nunca. Mas não é para essas que escrevo. "

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